A fábula
constitui um gênero literário bastante específico: trata-se de uma narrativa
curta, cujas personagens, em geral, são animais, podendo eventualmente ser
pessoas ou objetos inanimados. Essas histórias têm sempre uma finalidade
didático-moral.
ORIGEM DA FÁBULA
De
origem anterior à Era Cristã, é provável que a fábula tenha surgido
espontaneamente entre diferentes povos, de diversos continentes (embora a
maioria dos estudiosos aponte o Oriente como seu berço). Está associada à tradição
oral e popular: a palavra latina fabula
significa “conversação, relato” e deriva do verbo far, o qual, por sua vez, vem do grego phaó, “dizer, contar algo”, que quer dizer “falar”.
As
primeiras fábulas conhecidas da literatura ocidental vêm da Grécia, contadas
por Esopo, supostamente um escravo que teria vivido por volta do século VI a.C.,
mas cuja existência nunca foi historicamente comprovada, apesar de Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.), Aristófanes (c. 447 a.C.-385 a.C.) e Platão (c. 427 a.C.-347 a.C.) terem
feito referências a seu nome. Suas fábulas foram reunidas pelo filósofo Demétrio de Falero (c. 350 a.C.-280 a.C.),
no século IV a.C., e são referência até a atualidade.
No
século I a.C., em Roma, o filho de escravos Fedro ( 30/15 a.C.-44/50 d.C.) pôs no papel muitas das fábulas de
Esopo, estilizando-as formalmente ao escrevê-las em versos. Ele ainda criou
outras tantas, mas com um tom mais amargo que o das fábulas gregas. Na Idade
Média, além das fábulas greco-latinas, outras de origem oriental (Índia, China,
Pérsia, entre outros países), adaptadas das traduções árabes pela prosa latina,
foram disseminadas pela Europa sob o nome de Ysopets.
No
século XVII, na França, a fábula ganha seus contornos definitivos na literatura
ocidental, pelas mãos de Jean de La
Fontaine (1621-1695). Ao escrever ou reescrever fábulas em forma de poemas
narrativas curtos, La Fontaine devolveu-lhes o caráter literário e imprimiu um
novo pensamento filosófico ao seu conteúdo. Em tom de crítica ou de sátira,
empregando como denominador comum uma moralidade, o fabulista francês expunha
as injustiças, os vícios e as misérias de seu tempo.
Assim,
as fábulas acabaram por moldar-se às sociedades em que foram cultivadas,
refletindo a cultura e denunciando problemas de vários tipos.
Em
língua portuguesa, destaca-se o poeta lusitano Bocage (1765-1805), conhecido por sua veia satírica, que tanto
traduziu para o português como criou fábulas, nos fins do século XVIII. No
Brasil do século XX, Monteiro Lobato
foi o escritor que mais seguiu a tradição esopiana. Ao reescrever ou criar
novas fábulas, adicionou-lhes comentários feitos pelas famosas personagens de
suas narrativas infanto-juvenis. No século XXI, o autor que mais cultiva o
gênero é Millôr Fernandes (1923-),
que, desde 1963, lança suas Fábulas fabulosas
em livros:
Há
dois dias o caracol galgava lentamente o tronco da pitangueira, subindo e
parando, parando e subindo. Quarenta e oito horas de esforço tranquilo, de
caminhar quase filosófico. De repente, enquanto ele fazia mais um movimento para
avançar, desceu pelo tronco, apressadamente, no seu passo fustigado e ágil, uma
formiga-maluca, dessas que vão e vêm mais rápidas que coelho em desenho
animado. Parou um instantinho, olhou zombeteira o caracol e disse: “Volta,
volta, velho! Que é que você vai fazer lá em cima? Não é tempo de pitanga”. “Vou
indo, vou indo” - respondeu calmamente o caracol.
- Quando eu
chegar lá em cima vai ser tempo de pitanga.
Moral: no
Brasil não há pressa!
(“O caracol e a pitanga”. Millôr Fernandes.)
(“O caracol e a pitanga”. Millôr Fernandes.)
CARACTERÍSTICAS DA FÁBULA
A
fábula estabelece um entrelaçamento entre dois planos de significados: o denotativo, ou usual, e o conotativo, ou figurado. No denotativo,
tem-se uma historieta protagonizada por animais, como lobos, leões e formigas.
Entretanto, esses animais têm atitudes e apresentam características e estados
de espírito típicos dos seres humanos, o que desencadeia um segundo plano: o
conotativo.
Outras
características das fábulas são:
- Brevidade;
- Foco narrativo em terceira
pessoa;
- Predominância de diálogos e sequências
narrativas;
- Animais antropomorfizados como
protagonistas;
- Referência às personagens no
título;
- Unidade de ação, tempo
(indeterminado) e espaço;
- Intenção crítica e satírica;
- Objetivo pedagógico, ético ou
moral.
Na fábula a
seguir, traduzida diretamente do grego, a maioria das características dessa
forma literária está presente.
Certa
manhã, um fazendeiro descobriu que sua gansa tinha posto um ovo de ouro.
Apanhou o ovo, correu para casa, mostrou-o à mulher, dizendo: “Veja, estamos
ricos!” Levou o ovo ao mercado e vendeu-o por um bom preço. Na manhã seguinte,
a gansa tinha posto outro ovo de ouro, que o fazendeiro vendeu a melhor preço.
E assim aconteceu durante muitos dias. Mas, quanto mais rico ficava o
fazendeiro, mais dinheiro queria. E pensou: “Se esta gansa põe ovos de ouro,
dentro dela deve haver um tesouro!” Matou a gansa e, por dentro, a gansa era
igual a qualquer outra.
Quem tudo
quer, tudo perde.
(“A gansa dos ovos de ouro”, Esopo. )
(“A gansa dos ovos de ouro”, Esopo. )
(Enciclopédia
do Estudante – Redação e Comunicação, Augusta Carvalho Moraes e outros, p.100)
Bem o artigo não está muito bom
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